Cinema fora do Cinema: a missão de Sofia Mafalda

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Se você não vai até a Mostra, a Mostra vai até você. Esse é o lema da Sofia Mafalda, produtora que faz a itinerância na Capital Catarinense – neste ano em escolas dos bairros Canasvieiras, Cachoeira do Bom Jesus e Ingleses. E o mais bacana é saber que ela leva consigo para as escolas filmes de qualidade de várias parte do mundo, sua paixão por cinema e sua sensibilidade, o que faz do seu trabalho algo mais especial do que já é.

Durante as exibições, Sofia se depara com diferentes histórias e, por sua vez, através da projeção dos filmes, possibilita um experiência nova para os alunos que abrem as portas para a Mostra de Cinema. É um troca, a qual ela vive com muita intensidade.

Confira a entrevista.

 

Cinema: a arte que transforma

O cinema é a arte que transforma. Ele é mágico, porque é imagem e som numa sala escura, onde a imaginação vai longe. E com as crianças, essa experiência é três vezes mais intensa. Quem sabe por isso elas têm uma gratidão muito grande pelo o que a gente faz, mesmo que hoje tenham mais acesso a filmes, por conta do You Tube, etc. Quando comecei, há 11 anos, muito mais crianças não tinham ido ao cinema. De todo modo, promover essa experiência e ver esse carinho deles é o que mais me dá mais satisfação.
O mais importante para mim é poder levar o cinema para escola, porque é difícil levar tantas crianças de uma mesma escola para o cinema. Eu trabalho com 800 crianças por dia de uma mesma escola.

 

Luta para dar cinema para quem quer cinema

Há 12 anos atrás eu fazia a Mostra Cinema Pra Quem Quer Cinema, que levava cinema para as comunidades. Era eu, Luiz e Maria Antônia (que ainda estava na barriga). A Luiza ficou sabendo deste trabalho. No primeiro ano deste projeto, tivemos patrocínio da Eletrosul (que bancava algumas coisas). Na verdade, não ganhamos muito dinheiro, mas ganhamos uma coisa que o dinheiro não paga: o retorno do público. Depois de a Luiza conhecer o trabalho, ela chamou a mim e a Jupira, para compor a Mostra de Cinema. Eu fiquei super feliz porque nunca tinha trabalhado com o público infantil. A primeira sessão foi muito mágica: era muita criança e elas não tinham acesso ao cinema como tem hoje.

 

Histórias que marcam a alma

Várias coisas me marcaram nesses anos. Um das coisas legais que acontece é quando as crianças lembram que a gente já esteve na escola outros anos e nos reconhecem. Bom, são 11 anos. E tem uma menina que acompanhou vários os anos da Mostra e por um período não fomos na escola dela. Depois de um tempo nos reencontramos em outro lugar e ela me falou que estava esperando que a gente voltasse. Me contou também que depois que fizemos exibição na escola dela, começou a ter interesse por audiovisual. O sonho dela agora é trabalhar com cinema. Isso foi uma coisa que me tocou muito. É bom eles saberem que é real, que eles pode criar o filme, inclusive. Sempre que vou na escola e faço a abertura da sessão eu falo que o mundo pertence a eles. E o legal é que isso está na Mostra. Hoje exibimos um animação feita por um projeto numa escola municipal. As crianças ficaram encantadas.

 

Atenção para quem precisa de atenção

Os alunos de escolas públicas, via de regra, precisam de muita atenção. Por isso existe uma troca, mas existe também muita uma doação. Hoje pela manhã teve um menino que participou da sessão e não prestou muito atenção, porque ele estava chateado. Os pais tinham se separado. Eles contam tudo isso pra gente.

 

Idosos beneficiados com a itinerância

Neste ano, depois de 6 anos trabalhando com o Sul da ilha, resolvi mudar. Além das escolas do Norte da Ilha, dessa vez, estamos na Serte, na Cachoeira do Bom Jesus. Lá eles atendem os idosos, no asilo, e as crianças de até 6 anos, do educandário. Vou te falar que sai um pouco triste de lá, porque a gente lida com o fim da vida. Na segunda conversei com uma senhora que disse que não gostou da sessão, que estava tentando buscar algo com o que se identificasse nos filmes, mas não encontrou. Então perguntei para ela do que ela gostava e ela disse que não gostava de nada. E eu disse: nem de abraço? Então eu dei um abraço nela e ela me abraçou. Nesse momento ela me disse: a minha vontade é sair daqui e voltar para minha família…eu quero voltar para a minha família lá no Nordeste. Aquilo me pegou de um jeito que eu não sabia o que dizer para ela. Não consegui falar, tive que conter até lágrimas, porque é muito duro lidar com situações assim. Eu abracei ela de novo e falei para ela: bom, se eu puder fazer algo que faça bem para a senhora, eu voltarei aqui.

 

Trajetória no cinema

Eu entrei no cinema de paraquedas. Iria fazer jornalismo por causa dos meus pais, mas resolvi trocar para cinema. Minha mãe quase teve um “negócio” e meu pai gostou. A primeira aula que tive foi com Eduardo Paredes e ele me fez fascinar por cinema. No começo não sabia muito em qual área eu ia atuar. A dúvida durou duas semanas, na terceira eu já sabia que era produção que ia fazer. Tive oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas na minha vida: o César Cavalcanti, Ieda Beck e Luiza Lins. São pessoas que abriram portas para mim e são meus eternos professores. Eu aprendi muito principalmente com a Ieda, que foi a primeira diretora, teve muita troca, pena que ela já faleceu. Eu fiz uns 4 ou 5 curta-metragens como assistente de produção e mais pra frente fiz direção de produção. Mas eu já tinha a coisa da exibição na cabeça. Eu gosto de estar no set, mas não é igual estar numa sessão de cinema. Eu engravidei e queria continuar trabalhando com cinema, mas não na rotina louca de set. Luiz deu a ideia: porque não fazemos uma mostra de cinema para comunidades, tu gosta, se dá bem com as pessoas, conversa bastante, fazer bate-papo… Então fomos na Eletrosul e consegui patrocínio para a primeira Mostra Cinema Para Quem Quer Cinema. Fizemos 4 edições. Continuei trabalhando com cinema, fui presidente da Cinemateca e trabalhei no Funcine. Entrei na publicidade, mas não me satisfez. Meu negócio é exibição, público, e público infantil. Eu acho que quero proporcionar para eles o que eu não tive.

Veja a matéria sobre a ITINERÂNCIA em vídeo. CLIQUE AQUI. 

 

Entrevista: Letícia Kapper
Foto: Kélen Oliveira



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